3 de agosto de 2009

revolutionary road



O começo é comum: garoto olha garota, que retribui com interesse e acende a chaminha. O resto é um velho conhecido de todos: a paixão, os planos, a sensação de uma vida especial e a realização de todos os sonhos - na hora nem se desconfia que não existe predestinação, ser jovem e cheio de promessas não garante uma vida com sentido e que sonhos nem sempre se realizam.
E é justamente essa queda do cavalo que vemos em "Foi apenas um sonho". Dificilmente alguém não se indentifica com pelo menos alguma cena do filme. Não adianta, o ser humano será eternamente insatisfeito.
Quando um casal jovem e cheio de planos se vê de repente em uma vidinha ao melhor estilo "american dream" dos anos 50 com suas esposas perfeitas e casas de bonecas, bate o vazio. Onde foram parar aqueles sonhos, a certeza de um futuro cheio de alegria e surpresas? Se perderam na temida e inevitável mediocridade da rotina? Ou quem sabe realmente só existem na cabeça de jovens tolos?
O desespero silencioso de April berra por alguma emoção, alguma sensação. Frank se conforma com uma vida que sempre repudiou mas da qual não conseguiu escapar. Segundo a própria April, casaram, ela engravidou, se mudaram para o subúrbio e tiveram outro filho pra provar que o primeiro não foi um erro. Mas seria possível fugir disso? Ela pensa que em Paris eles conseguiriam encontrar o sentido, lá os sonhos poderiam se realizar. Todos pensamos assim em algum momento e todos acabamos descobrindo que não escapamos de nós mesmos, nos perseguimos onde formos.
É preciso que um neurótico escancare para o casal a crueza da realidade. Cada fala é um soco no estômago. A verdade choca.
Talvez por isso achei um filme tão angustiante, são verdades demais. Não sei se somos preparados pra elas.

2 de agosto de 2009

passo

Nada como um retiro emocional para colocar as idéias em ordem e digerir os novos sentimentos. Especialmente quando esses sentimentos mudam drasticamente o rumo da vida.
Em pouquíssimo tempo passei de uma pessoa "sem rumo" para uma mulher com uma perspectiva de realização que eu não imaginava para mim tão cedo.

Agora que tudo está calmo como nunca esteve, eu paro, olho para um passado muito recente e vejo o quanto as situações são capazes de nos absorver ao ponto de perdermos o norte. E o pior: nos acostumamos com isso. O ser humano se acostuma com tudo e se resigna com uma situação minimamente confortável.
Quando se abre os olhos e se sente as amarras (principalmente quando se tem claustrofobia emocional) é preciso força pra se soltar e abandonar aquela zona de conforto.
Acho que consegui. Arrisquei, joguei muito alto. E o retorno tem sido muito maior do que um dia esperei: segurança e paz de espírito - não sei como conseguia viver sem isso.

Sei que coisas muito boas estão logo ali na frente me esperando. Mas não vou correr, finalmente achei meu ritmo.

3 de julho de 2009

palavras

Ganhei um presente há alguns dias: uma folha de papel. Simples, branca e com palavras impressas. Ouvi enquanto pegava o papel: "pra te dar um gostinho".
Comecei a ler...

Ítaca

Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrará
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda a espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.



Não foi um simples gostinho. Foi um daqueles momentos em que algo novo acontece, como o primeiro poema do Borges ou do Mario Quintana. Eu queria mais. Eis que um dia depois, com o livro "Poemas" em mãos, mais um arrepio:

Muros

Sem cuidado nenhum, sem respeito nem pesar,
ergueram à minha volta altos muros de pedra.
E agora aqui estou, em desespero, sem pensar
noutra coisa: o infortúnio a mente me depreda.


E eu que tinha tanta coisa por fazer lá fora!
Quando os ergueram, mal notei os muros, esses.
Não ouvi voz de pedreiro, um ruído que fora.
Isolaram-me do mundo sem que eu percebesse.


Isso, queridos, é Konstantinos Kafavis.

2 de julho de 2009

ensina-me

Cinco dias.
Geralmente é esse o tempo que levo digerindo o que me toca. Lembro, relembro, vasculho os menores detalhes, até que tudo se encaixe e eu consiga ver o a transformação que isso sofreu dentro de mim.
Há cinco dias fui ao teatro assistir a peça "Ensina-me a viver" baseada no filme Harold and Maude.
Fecho os olhos e vejo o jeitinho meio maluco de Maude, o desjeito de Harold e aquela música linda... Glória Menezes É sim a rainha das atrizes brasileiras (apesar do meu preconceito com atores de novela) . E Arlindo Lopes foi uma surpresa agradabilíssima com suas traquinagens em busca da simulação de suicídio mais real enquanto descobria a poesia da vida.
Maude tem 80 anos, ama a vida mas acha que já viveu o que basta e frequenta funerais de desconhecidos pra ver que o ciclo tem fim. Harold é um menino de 20 que ainda nem começou a viver mas acha que a morte é o que o faz vivo. Em um desses funerais eles se encontram. Ver o surgimento desse amor é como assistir um nascimento, com todas as possibilidades que o futuro dá.
Faz realmente pensar sobre o ciclo. Dá vontade de amar, de viver e, por que não, de acabar. A visão que Maude tem da vida parece um sonho, nos faz querer entrar e viver em um mundo onde cada segundo é um mágico com surpresas na cartola.
É o teatro em sua verdadeira essência. Um espetáculo tão lindo quanto o que podemos fazer de nossas vidas.

No fim, Harold diz que a ama e Maude responde: "Isso é maravilhoso! Vá e ame mais!"
Vou pegar emprestado seu conselho.

22 de junho de 2009

despedida

Entre mi amor y yo han de levantarse
trescientas noches como trescientas paredes
y el mar será una magia entre nosotros.

No havrá sino recuerdos.
Oh tardes merecidas por la pena,
noches esperanzadas de mirarte,
campos de mi camino, firmamento
que estou vivendo y perdiendo...
Definitiva como un mármol
entristecerá tu ausencia otras tardes.

jorge luis borges

19 de junho de 2009

achados e perdidos

Ando pela vida perdendo coisas. Por onde passo deixo algo. Pode ser por distração - vivo com a cabeça nas nuvens. Ou quem sabe eu silmplesmente não suporte carregar pesos. Perco anéis. Perco carteiras. Às vezes perco o juízo. Pessoas e amores, idéias e valores. Uns eu recupero. Outros nunca mais vejo.
Perco a hora. Perco as chaves. Perco o sono. Já perdi até uma gata. Perco a linha e perco o fio da meada.
Posso perder de tudo, mas nunca fico vazia. Não preciso de nada além do que está aqui dentro.

as abobrinhas!

"E se ela morrer, este espetáculo mundano pode bem encerrar as portas. Podem desmontá-lo, retirar as escadarias, enrolar o céu e coloca-lo num atrelado com um reboque... E podem apagar tudo. Podem apagar a lindíssima luz do Sol que eu tanto amo. E sabes por que amo tanto? Porque a amo quando o Sol recai sobre ela. Eles podem levar tudo, estes carpetes, estas colunas, estes palácios, a areia, o vento, as rãs, as melancias maduras, a saraiva, as seis da tarde, Maio, Junho, Julho, o basílico, as abelhas, o mar, as abobrinhas... as abobrinhas, Al Giumeili! Arranja-me lá a glicerina!"

Roberto Benigni é um abobado mas sabe das coisas.

As abobrinhas nunca mais serão as mesmas...

18 de junho de 2009

livros, poesia e amor eterno

Desde que me conheço por gente eu vivo aquela famosa crise do "eu não sei o que quero fazer na vida". Isso já me rendeu noites em claro, cobrança da família e dois cursos universitários interrompidos. Tá certo que nunca entendi bem por que alguém TEM que saber o que quer e não pode tentar até descobrir. Foi o que eu fiz, mas olhar pro lado e ver aquela amiga que se saiu do colégio comigo se tornar uma advogada mega realizada ou aquele amigo que vive pra salvar animaizinhos dá uma sensação de "putz, será que um dia eu vou me sentir assim também?".
Eis que, com um empurrãozinho de mamãe, me vejo na faculdade de jornalismo, absorvendo como uma esponjinha tudo o que vejo e leio, maravilhada por finalmente ter achado algo que me dá tanto prazer em fazer.
No meio disso tudo, trabalho com algo que sempre gostei mas nunca achei que daria certo: livros, na minha terceira livraria, dessa vez como estágiária. Dia desses disse para uma amiga que me perguntou como estava o trabalho: "Bah, não existe coisa no mundo mais gostosa do que viver no meio daquele monte de livros". Ela riu e disse um "Só tu mesmo...". Infelizmente, mesmo entre pessoas consideradas "esclarecidas", isso ainda é uma coisa sem objetivo, sem valor. Quer valor maior que ouvir Balzac te murmurando suas críticas jornalísticas, Simone de Beauvoir falando pelas mulheres independentes ou os paraísos artíficiais que Baudelaire visita em suas poesias? (sim, sou mais os franceses)
É no meio disso tudo que convivo com pessoas incríveis e presencio momentos impagáveis. Como no dia em que conheci uma senhorinha de 82 anos, que foi lá levar seu livro de poesias para vendermos. Pensei "que bonitinha, ela resolveu aproveitar até o fim de sua vida, produzindo uns poemas pra passar o tempo". De repente ela começou a declamar uma poesia sobre um sonho que tivera quando criança. Ok, não era um Rimbaud, mas que transformação ela sofreu! De uma velhinha excêntrica passou para uma menina de 12 anos, segurando uma rosa verde entre os dedos. Quando ela terminou me vi arrepiada e com lágrimas nos olhos. Não é todo dia que conhecemos pessoas assim.

Alguns dias depois, no dia dos namorados, estávamos, Fran (solteirona convicta), Mari (que queria terminar com o namorado) e eu (que aproveitava os últimos dias com o meu), conversando quando chega um casal (também na casa dos oitenta anos). Nenhuma de nós estava muito contente com nossas situações, imagina quando ouvimos do senhor com uma voz apaixonada "Essa aqui é a minha ursinha", e ela responde "Sabem o que ele me fez hoje? Me deu uma rosa quando acordei e depois me levou pra um almoço romântico!". Quando eles foram embora nos perguntamos se esse amor pra vida toda existe mesmo. Fran, com seu ceticismo, disse que isso era bobagem, no mínimo o homem era rico e a velhinha estava dando o golpe. Eu e Mari, bobocas, achamos que era um caso raro de pessoas que encontraram a maneira certa de fazer um relacionamento dar certo. Nisso chega o chefe, que conhece o casal: "Ahh, ela é uma figura! Já está no terceiro marido. Daqui a pouco esse morre e ela arruma outro."
Breve momento cara de tacho... Acho que prefiro seguir acreditando.

15 de junho de 2009

testamento

...
E para ele deixo todo o resto. Meu corpo, que foi só dele por tanto tempo. Minha alma, que nunca o deixará.
Ficam também as lembranças... quantas lembranças! As noites em claro, os passeios na praia, os 738 tipos de beijos e carinhos. Fica a minha cara de felicidade a cada surpresinha que ele me aprontava, quase todos os dias. Os planos, os desejos. Aquele calorzinho que eu sentia quando pensava nele. Tudo o que eu aprendi com ele, tudo que eu o ensinei. A satisfação de ter sido o melhor em tudo. TUDO.
A gratidão por ter me segurado quando eu podia ter ido embora. Também por ter ficado quando deveria ter ido embora. E por ter cuidado de mim como nunca ninguém cuidou.
Fica um amor que foi maior que eu, maior que ele, maior que a vida. Que quem sabe nunca se acabe totalmente.
Fica, acima de tudo, um espaço que ninguém jamais poderá tirar. Que é só dele. E a certeza de que o que ficou aqui dentro eu vou sempre manter vivo.

14 de junho de 2009

the end

Abriu os olhos ainda sem conseguir enxergar direito. Olhou para o lado: vazio; apenas uma camiseta vermelha em cima do travesseiro. Sentiu uma dor atravessar seu corpo. Tenta lembrar da noite anterior, uma avenida vazia, alguns gritos, os olhos ardendo, aquele rosto hostil. "O que foi que eu fiz?".
Ao sentar na cama a certeza lhe caiu como um tijolo: estava acabado. Pensa no que fazer, tem algumas opções. Nenhuma lhe parece útil. Liga o computador e começa a escrever um email. Droga de tecnologia, os tempos de bater na porta de casa e despejar as palavras que vêm à cabeça eram melhores. Uma frase não tinha nexo com a outra, melhor apagar tudo.
Quem sabe uma volta pela rua... não está tão frio e tem um sol bonito. Caminha um pouco mas logo desiste; tem mais pessoas felizes na rua do que o normal, e isso a irrita hoje mais do que o normal.
Quem sabe ler? Não, Beauvoir não está ajudando. Histórias de guerra menos ainda... desiste de procurar distração. Pensa naqueles que conseguem tirar coisas boas da dor. Ela não consegue, apenas mais dor.
Queria ouvir aquela voz mais uma vez. Ver aquele rosto mais uma vez. Sentir aquele corpo mais uma vez. Sempre se recusou a aceitar a "última vez". Odeia tudo que é definitivo. Talvez por isso nunca aprendeu a lidar com a morte e com epílogos. Precisa de uma porta aberta.
Cheira a camiseta. Precisa dela, daquele conforto. Algo que a prove que não estava louca. Ele existia e esteve ali há poucas horas.
Se foi, mas alguma porta tinha que estar aberta.

take me, i'm yours

Nunca foi minha intenção deixar esse blog meloso, usá-lo pra dizer algo para A ou B. Hoje, lendo o que já escrevi, notei que foi exatamente isso que aconteceu. Paciência.

Os últimos acontecimentos foram decisivos no rumo das coisas. Não sei se é realmente o fim, cada célula do meu corpo quer que não seja, mas tem coisas que minhas células não podem resolver.
734 emails não terminados, palavras agoniadas querendo pular da garganta, "ne me quitte pas" e outros desesperos tocados sem parar, muito vinho... Nada ajuda. Pelo contrário.
Como fazê-lo ver que apesar dos problemas eu o quero mais que tudo? Posso não saber dar o que ele quer, aqueles dois parafusos perdidos fazem falta às vezes, mas algo que encaixa tão bem tem que dar certo!
Eu me rendo, o deixo me transformar no que ele quiser. Não sou mais minha.

4 de junho de 2009

fuck rehab!

Em grande estilo!!

18 de maio de 2009

o espelho

Às vezes penso na imagem que as pessoas passam. "ah não, ele é louco demais", "se ela fosse normal jamais faria isso".
Pois nos últimos tempos conheci várias dessas pessoas de quem falam assim. Dizem que sou uma delas. Quem sabe? Não me importaria de ser. Sou bem confortável dentro de mim.
Uma dessas figuras apareceu em uma situação bem incomum, em um lugar mais maluco ainda - literalmente uma loucura. Por fora é apenas mais um cara de vinte e poucos anos, desprendido e dono de si, que quem sabe tenha levado a inconsequencia adolescente longe demais. Em alguns minutos de conversa aflora um menino que só falta perguntar "você quer ser meu amigo?". Depois de um tempo eu não resisti e me vi dizendo "sim, eu quero! vamos pro campinho!". E foi aí que começou...
Hoje enquanto ouvia suas histórias loucas e tentativas filosóficas me peguei pensando: onde as pessoas se perdem? Em que ponto elas resolvem ser "normais", seguir a regra e sufocar a vontade de fazer guerra de bexiguinha em pleno Ibirapuera? Tá certo que temos que respeitar certos rituais, aceitar que o tempo passa, as coisas mudam, nós mudamos e não podemos ser inconsequentes pra sempre. Mas até que ponto?
É por isso que enquanto o via pelo visor da câmera tentando fazer uma pipa voar, eu senti que ali estava uma pessoa capaz de se salvar da razão. E me senti livre. Livre da cobrança, de juízos e tentativas frustradas.
Ele era eu há pouco tempo.

15 de maio de 2009

sobre essas pessoas

Para quem não tem amigos, digo uma coisa: tu tá f***!
Dia desses parei pra pensar nessas pessoas que a vida foi colocando no meu caminho. De uns eu me perdi, de outros eu não desgrudo, e ainda tem aqueles que volta e meia cruzam a minha estrada, ficam um pouco e depois se vão, até o próximo cruzamento.
Engana-se quem pensa que amigo de verdade tem que estar sempre por perto. Os seres humanos (pelo menos os interessantes) são inconstantes. Nem sempre são compatíveis em todas as suas fases. É como o amor. Quais são as probabilidades de o namorado que se tem com 15 anos dar certo quando se tem 25? Tem gente que só dá certo na nossa vida em determinadas épocas.
Eu me considero uma pessoa de sorte. Muita sorte até, pois admito que não sou uma boa cultivadora de amigos. Se não fosse por esses loucos que vão atrás de mim quando eu sumo, não ficam brabos quando eu não retorno ligações ou quando dou eventuais bolos... Não tenho a menor pretensão de ter um milhão de amigos. Admito que sou chata de tão seletiva. Mas não me arrependo. Tô com eles e não abro!
Lembra aquele álbum "amar é?"? Pois devia exister um "amigo é":
Amigo é companhia pra um cinema no fim de tarde. Amigo te liga de madrugada pra chorar as pitangas. Amigo te ouve chorar as pitangas de madrugada. Amigo passa horas falando besteira numa mesa de bar. Ou no msn. Ou no telefone. Whatever. Amigo vai contigo a festas malucas nas noites de sábado. Amigo tem sempre aquele conselho que tu sabe que não vai seguir, mas que te dão segurança. Amigo te cuida quando tu quase tem uma OD, e no outro dia te dá a maior bronca. Amigo está no teu lado nas indiadas. Amigo ri contigo das indiadas passadas. Amigo releva mau humor. Amigo encara praia no inverno.
Amigo sabe dos teus podres e ainda assim faz tudo isso.

Todo mundo precisa de um Wilson.

13 de maio de 2009

need a little time to wake up

Ontem, dia 12/05/2009, por volta das 22h, eu morri.
Não sei bem como aconteceu. Lembro de estar dentro do carro em uma avenida. Tinha bastante gente, uns carros de polícia.
De repente me vi na frente de um portão. Resolvi entrar, dizem que a gente não pode lutar contra certas coisas. Lá dentro estava bem cheio, pessoas por todos os lados. Conforme entrava via mais pessoas, o calor aumentava. "Será que isso é o inferno? Yeah!! Sempre achei que o céu devia ser sem graça!"
Continuei andando. Me empurravam, me espremiam, senti cheiro de cerveja enquanto procurava um lugar mais tranquilo. Ali! Achei um!
Sentei um pouco, imaginando que aquilo devia ser a entrada de onde quer que fosse.
Alguns minutos depois, aconteceu.
A luz se apagou e eu vi. Eu, mais cética que meu cachorro, me vi na frente de Deus. Não um, mas dois Deuses! Imaginei que minhas boas ações estavam sendo recompensadas.
Eles me disseram "tonight I'm a rock'n'roll star". Eu não tive a menor dúvida. Pulei e gritei com eles, olhei em volta e todos faziam o mesmo. Pensei que aquele devia ser um lugar especial para todos os que tiveram um bom gosto musical em vida serem recebidos.
Um dos deuses, Liam é seu nome, tinha um jeito irresistível de parar e olhar para aquele monte de gente. Que pose! Que estilo! Enlouqueci.
Já o outro, Noel, ah... aquele sim me fez acreditar em paraíso. Aquela costeleta até o queixo, cabelo bagunçado, os olhos verdes! Tudo combinando perfeitamente com uma cara carrancuda de fazer parar meu coraçãozinho. (ops, ele já tinha parado!)
Cantaram, cantaram, pirei com cigarettes & alcohol e slide away, eles falam alto e cantam com orgulho. Mas foi quando Noel me disse "we're all part of a masterplan" que eu disse: obrigada meus deuses, minha vida valeu a pena! Não há Wonderwall que supere.
So I took my Champagne Supernova back to life saying: Yes, Liam, you are the walrus!

11 de maio de 2009

apenas uma noite

Vou? Não vou? Tá, vou. Escolher a roupa, parte mais difícil. Essa me engorda. Não, muito decotada. Ok, essa tá legal. Encontro o pessoal. Umas cervejas pra começar. O papo tá muito bom, vamos ficar mais um pouco. Agora já dá pra ir, bora. Putz, tem fila. A gente espera. Meia hora se passa. Entramos! Eca, cheirão de cigarro logo na entrada. Uma olhada, parece bom, bastante gente. Pista! Agora a noite começou. Amo essa música! Vou pegar uma bebida. Vodka ou cerveja? Muito cedo ainda, vou de cerveja. Volto pra pista. O pessoal de sempre, colegas, conhecidos... Essa cidade é mesmo um ovo! As gurias já estão começando a ficar doidas e eu não paro quieta. Droga, acabou a cerveja. Agora eu vou pra minha vodka, chega de frescura. Argh, desceu queimando. Sempre tem os malas que passam e querem beijo. Pro inferno! Lá vou eu de volta pra pista. O pessoal cada hora mais enlouquecido. Já estou bem soltinha. Me acabo com Franz Ferdinand. Uhhhhhh! Tá calor. Pausa para banheiro. Fofoca básica. Descubro que o fulano tá pegando uma gordinha. Acho melhor parar com a bebida. Só mais uma. Olha, aquele até é bonito. Pena que fuma. Sentadinha no bar pra descansar. Essa gente é parceira pra noite! Bora pra pista de novo? Meu pé está doendo, maldito salto! Mas não resisto ao The Strokes. 5h, pessoal morto e com fome. Ahh não, Habib's não! Mc nem pensar! Van Gogh?
Ceeerto! Uma canja e uma coca, por favor.

10 de maio de 2009

une autre année sans toi

E cá estou... o segundo dia das mães sem ti. Quem diria, hein?? Pra quem achou que não ia sobreviver ao primeiro!
Te digo uma coisa, agora que o pior passou, fiz isso por ti. Resolvi seguir tuas palavras. (sei que devia ter feito mais isso)
Queria que tu visse como as coisas estão agora. O Rico está tão bem!!! Tá na escola, tem amigos, sai sozinho... ontem até o levei pra festa!
Eu estou no caminho certo, acho. Graças à ti achei a carreira certa, ganhei um pai e nunca me dei tão bem com o Rico. E conheci uma pessoa que gostaria de ter te apresentado. O primeiro desde aquela bronca quando me separei do Mr. L, lembra??? "Nunca mais me apresenta ninguém, snif snif! Eu me apego e depois fico sofrendo!!! snif snif" Pois é, esse valeria a pena. Mas, putz, tu estarias chorando agora! Bom, não se pode ter tudo. Tu não o conheceste mas ele sabia tanto de ti que parecia ter convivido contigo por uma década! Tadinho, um ano e meio ouvindo "As Aventuras de Dona Lena". E o pior é que ele gostava! E me deu força quando eu disse que nossa filha se chamaria Lena.
Fiz numas besteiras também. Desculpa, mãe. Mas acho que o saldo é positivo.
Ainda não aprendi a dormir sozinha, preciso de uns drinks pra relaxar e pegar no sono, mas no drugs! Não te preocupa.
No dia das mãe do ano passado fui com o Rico pra Nova Petrópolis, lembra que tu querias morar lá? Foi bem bacana, até vimos umas casinhas que tu ias adorar. Passeando por lá me lembrei daquela nossa viagem à serra, só nós duas. Lembra o que foi?? Compras em N.P., um ônibus pinga-pinga até Canela, jantinha com vinho na frente do hotel, conchinha na hora de dormir, pic-nic pela rua, mais compras em Canela... Te senti tão minha!! Adorava ter minha mãezinha só pra mim.
Esse ano o Rico arrumou coisa melhor pra fazer e eu fiquei sozinha. Mas aproveitei o dia pra ver nossas fotos. Não quis te visitar. Desculpa se não tenho ido muito ultimamente, mas estou achando meios de me sentir perto de ti fora de lá. Machuca muito, tu entende, né?
Era tudo tão diferente antes! Mais fácil, menos assustador. Quem sabe a diferença esteja só em mim. Sem ti eu vi que estou sozinha, que todos estamos. Agora não tem mais o ninho pra onde voltar depois das andanças pelo mundo. Não tem mais quem passe a mão na minha cabeça quando eu faço besteira e ninguém entende quando tenho pic-nic sozinha. C'est la vie. Depois de tudo o que tive ao teu lado, não posso reclamar.
Queria te mandar isso em uma carta, com uma letra bonita em um papel amarelo, mas não sei pra onde mandar. Então fica aqui, quem sabe não tenha um acesso por aí?

Te amo tanto que dói!
Narizinho....

S.

8 de maio de 2009

your smell

Essa noite eu sonhei contigo. Até consegui sentir teu cheiro.
Durante todo esse tempo tu aparece praticamente todas as noites nos filmes bizarros da minha mente, mas dessa vez foi diferente. Era tu. Só tu.
Não tinha risada, choro, bronca nem rotina. Era o teu silêncio e teu cheiro.
Aquele perfume que só tu tinha e que está gravado na minha memória desde que nasci. Ainda sinto em uma ou outra roupa guardada. Não é a mesma coisa mas é um pouquinho de ti.
Já o teu silêncio não consigo mais encontrar. Não é a simples ausência de palavras, o vazio. É mais que isso. Palavras silenciosas voavam pelo ar e nos preenchiam sem precisarmos mexer um músculo do corpo.
Eu tento isso. Tento dar significado ao meu silêncio mas ele só era completo com o teu.
Meu mundo só era completo com o teu.

Sanchinho,
S.

5 de maio de 2009

medo do escuro

De repente o clarão se apaga.
Sobrou uma luz suave, bruxuleante, que só se mantém acesa porque o vento ainda não está muito forte.
E ela, sentada num canto do quarto, apenas observa. Morre de medo do escuro e da solidão, e sabe que quando aquela pequena vela se apagar, ela estará sozinha numa imensidão negra até o fim.
Como proteger aquela chaminha do vento que cisma em soprar? Se ela apenas pudesse segurá-la e mantê-la acesa entre suas mãos! Mas não pode, a chama é frágil e indomável demais.
Ela se sente pequena, vazia, sem forças, como se sua vida dependesse daquela pequena luz. Justo ela, que era tão forte que nada a assustava! Se deu conta de como a luz forte impede que as pessoas realmente se enxerguem. É como se as cegasse e somente na penumbra vissem o que realmente há (ou não há) dentro de cada um. Tudo o que ela vê agora é um enorme labirinto, as paredes (dúvidas, medos e alguns desejos que a apavoram) estão mais altas e intransponíveis que nunca. Não imagina o que há no fim, mas corre pra ele, procurando uma resposta, algo que a faça se sentir melhor, que faça parar de doer.
Os fantasmas que encontra em algumas esquinas já são velhos conhecidos, sempre presentes em suas longas noites insones. Lembra de quando se perdeu de seus pais na praia, ainda criança. E de quando sofreu sua maior desilusão amorosa. Aquele desespero de nunca mais se sentir completa de novo, abandono... que bobagem! Se pudesse voltar àquele tempo, quando era uma criancinha, o calor, a proteção...
Pensa em como enxergar na escuridão. Como se mexer? Como dar mais um passo?
Está começando a sentir frio. Procura chegar o mais perto possível da chama para conseguir um pouco de seu calor. Mas não é suficiente. E o vento começa a ficar forte.
Pensa que talvez pudesse manter a luzinha por mais tempo. Quem sabe uma redoma, ou trancar todas as janelas e portas para o vento não entrar. Mas não existe abrigo. O vento está virando um vendaval. Está ficando escuro...

4 de maio de 2009

her morning elegance

And she fights for her life
As she puts on her coat
And she fights for her life on the train
She looks at the rain
As it pours
And she fights for her life
As she goes in a store
With a thought she has caught
By a thread
She pays for the bread
And she goes...
Nobody knows



30 de abril de 2009

Um bom inverno

Photobucket

Minha vida musical é feita de vícios. O que eu gosto, eu gosto demais, ouço demais, sinto demais. E tem fases, ciclos que tem início e fim. O meio é tudo.

Um dos vícios atuais é o ultra-modern-indie-folk Bon Iver (aka Justin Vernon). Só uma palavra descreve esse cara que passou quatro meses trancado numa cabana no meio do nada escrevendo música: genial!
Quando ouço sinto um friozinho gostoso (bem diferente do meu usual calorzinho), talvez porque o nome dele venha de "bon hiver" (bom inverno em francês), ou quem sabe ele tenha a alma daqueles solitários que largam tudo e vão pro Alaska. Os acordes são gelados e as letras fazem eu me sentir em alguma floresta na Suécia.
E tem o silêncio. Sempre eu e o silêncio. Silêncio em música?? Pois ele consegue, mesmo em meio àquela nevasca que é sua música.
Mas não se engane: depois de ouvir todo o álbum até o mais gelado dos corações se derrete. A voz é fluida, atinge todos os lados de quem ouve.
Agora ele saiu da cabana (sem trocadilhos!!) e encontrou uma banda bem bacana. Uns guris que como ele conseguem tirar som de QUALQUER objeto.

Vê-los sentados em um quarto de criança em pleno Montmartre me faz querer ser aquela ovelhinha.
http://www.youtube.com/watch?v=WvvQQHnpRfA

Defrag

All I need is a program that could defrag my heart.

Or else I need another heart.

29 de abril de 2009

Wondering...

Até que ponto fale a pena relevar? Claro, todos temos que deixar coisas bobas passar mas quando começa a interferir demais no nosso espaço a coisa complica.
Não, o requeijão não é nem de longe um problema importante. Mas o que levou a isso é o que conta. E tem levado há bastante tempo.
Ok, fase 1 completa.
E agora???

A camiseta continua pendurada no banheiro, exatamente no mesmo lugar e embolada como foi deixada. A camisa pendurada na cadeira, com seu botão recém pregado. Apesar de meus ímpetos de deixar a casa arrumada, não consigo tirar as coisas de onde foram deixadas (ou jogadas).
Por que não pego tudo e entrego pro ser? Boa pergunta! Quando eu souber a resposta te digo.
Conjectura 1: não estou afim de cutucar a ferida.
Conjectura 2: preguiça.
Conjectura 3: pode me dar a louca e eu chama-lo de volta. (kinda possible)
Conjectura 4: o lugar dele é aqui agarrado em mim e só falta eu me dar conta disso.

Enquanto eu não resolvo continuo a dormir acordada (damn! i miss those feet!), vejo minha tvzinha antes de dormir e olho direto pra mesa da sala assim que abro a porta de casa pra ver se tem uma carteira e um celular em cima.
Quem sabe um dia tenha?

Lembrança sem noção do dia: um alemão de cueca dançando "I feel it all" pela casa.

28 de abril de 2009

Fight Club

Eu luto. Tu lutas.
Eu luto pra parar de lutar. Tu lutas contra o luto.
Tu lutas contra mim.
Eu só quero parar de lutar.