18 de junho de 2009

livros, poesia e amor eterno

Desde que me conheço por gente eu vivo aquela famosa crise do "eu não sei o que quero fazer na vida". Isso já me rendeu noites em claro, cobrança da família e dois cursos universitários interrompidos. Tá certo que nunca entendi bem por que alguém TEM que saber o que quer e não pode tentar até descobrir. Foi o que eu fiz, mas olhar pro lado e ver aquela amiga que se saiu do colégio comigo se tornar uma advogada mega realizada ou aquele amigo que vive pra salvar animaizinhos dá uma sensação de "putz, será que um dia eu vou me sentir assim também?".
Eis que, com um empurrãozinho de mamãe, me vejo na faculdade de jornalismo, absorvendo como uma esponjinha tudo o que vejo e leio, maravilhada por finalmente ter achado algo que me dá tanto prazer em fazer.
No meio disso tudo, trabalho com algo que sempre gostei mas nunca achei que daria certo: livros, na minha terceira livraria, dessa vez como estágiária. Dia desses disse para uma amiga que me perguntou como estava o trabalho: "Bah, não existe coisa no mundo mais gostosa do que viver no meio daquele monte de livros". Ela riu e disse um "Só tu mesmo...". Infelizmente, mesmo entre pessoas consideradas "esclarecidas", isso ainda é uma coisa sem objetivo, sem valor. Quer valor maior que ouvir Balzac te murmurando suas críticas jornalísticas, Simone de Beauvoir falando pelas mulheres independentes ou os paraísos artíficiais que Baudelaire visita em suas poesias? (sim, sou mais os franceses)
É no meio disso tudo que convivo com pessoas incríveis e presencio momentos impagáveis. Como no dia em que conheci uma senhorinha de 82 anos, que foi lá levar seu livro de poesias para vendermos. Pensei "que bonitinha, ela resolveu aproveitar até o fim de sua vida, produzindo uns poemas pra passar o tempo". De repente ela começou a declamar uma poesia sobre um sonho que tivera quando criança. Ok, não era um Rimbaud, mas que transformação ela sofreu! De uma velhinha excêntrica passou para uma menina de 12 anos, segurando uma rosa verde entre os dedos. Quando ela terminou me vi arrepiada e com lágrimas nos olhos. Não é todo dia que conhecemos pessoas assim.

Alguns dias depois, no dia dos namorados, estávamos, Fran (solteirona convicta), Mari (que queria terminar com o namorado) e eu (que aproveitava os últimos dias com o meu), conversando quando chega um casal (também na casa dos oitenta anos). Nenhuma de nós estava muito contente com nossas situações, imagina quando ouvimos do senhor com uma voz apaixonada "Essa aqui é a minha ursinha", e ela responde "Sabem o que ele me fez hoje? Me deu uma rosa quando acordei e depois me levou pra um almoço romântico!". Quando eles foram embora nos perguntamos se esse amor pra vida toda existe mesmo. Fran, com seu ceticismo, disse que isso era bobagem, no mínimo o homem era rico e a velhinha estava dando o golpe. Eu e Mari, bobocas, achamos que era um caso raro de pessoas que encontraram a maneira certa de fazer um relacionamento dar certo. Nisso chega o chefe, que conhece o casal: "Ahh, ela é uma figura! Já está no terceiro marido. Daqui a pouco esse morre e ela arruma outro."
Breve momento cara de tacho... Acho que prefiro seguir acreditando.

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