18 de maio de 2009

o espelho

Às vezes penso na imagem que as pessoas passam. "ah não, ele é louco demais", "se ela fosse normal jamais faria isso".
Pois nos últimos tempos conheci várias dessas pessoas de quem falam assim. Dizem que sou uma delas. Quem sabe? Não me importaria de ser. Sou bem confortável dentro de mim.
Uma dessas figuras apareceu em uma situação bem incomum, em um lugar mais maluco ainda - literalmente uma loucura. Por fora é apenas mais um cara de vinte e poucos anos, desprendido e dono de si, que quem sabe tenha levado a inconsequencia adolescente longe demais. Em alguns minutos de conversa aflora um menino que só falta perguntar "você quer ser meu amigo?". Depois de um tempo eu não resisti e me vi dizendo "sim, eu quero! vamos pro campinho!". E foi aí que começou...
Hoje enquanto ouvia suas histórias loucas e tentativas filosóficas me peguei pensando: onde as pessoas se perdem? Em que ponto elas resolvem ser "normais", seguir a regra e sufocar a vontade de fazer guerra de bexiguinha em pleno Ibirapuera? Tá certo que temos que respeitar certos rituais, aceitar que o tempo passa, as coisas mudam, nós mudamos e não podemos ser inconsequentes pra sempre. Mas até que ponto?
É por isso que enquanto o via pelo visor da câmera tentando fazer uma pipa voar, eu senti que ali estava uma pessoa capaz de se salvar da razão. E me senti livre. Livre da cobrança, de juízos e tentativas frustradas.
Ele era eu há pouco tempo.

15 de maio de 2009

sobre essas pessoas

Para quem não tem amigos, digo uma coisa: tu tá f***!
Dia desses parei pra pensar nessas pessoas que a vida foi colocando no meu caminho. De uns eu me perdi, de outros eu não desgrudo, e ainda tem aqueles que volta e meia cruzam a minha estrada, ficam um pouco e depois se vão, até o próximo cruzamento.
Engana-se quem pensa que amigo de verdade tem que estar sempre por perto. Os seres humanos (pelo menos os interessantes) são inconstantes. Nem sempre são compatíveis em todas as suas fases. É como o amor. Quais são as probabilidades de o namorado que se tem com 15 anos dar certo quando se tem 25? Tem gente que só dá certo na nossa vida em determinadas épocas.
Eu me considero uma pessoa de sorte. Muita sorte até, pois admito que não sou uma boa cultivadora de amigos. Se não fosse por esses loucos que vão atrás de mim quando eu sumo, não ficam brabos quando eu não retorno ligações ou quando dou eventuais bolos... Não tenho a menor pretensão de ter um milhão de amigos. Admito que sou chata de tão seletiva. Mas não me arrependo. Tô com eles e não abro!
Lembra aquele álbum "amar é?"? Pois devia exister um "amigo é":
Amigo é companhia pra um cinema no fim de tarde. Amigo te liga de madrugada pra chorar as pitangas. Amigo te ouve chorar as pitangas de madrugada. Amigo passa horas falando besteira numa mesa de bar. Ou no msn. Ou no telefone. Whatever. Amigo vai contigo a festas malucas nas noites de sábado. Amigo tem sempre aquele conselho que tu sabe que não vai seguir, mas que te dão segurança. Amigo te cuida quando tu quase tem uma OD, e no outro dia te dá a maior bronca. Amigo está no teu lado nas indiadas. Amigo ri contigo das indiadas passadas. Amigo releva mau humor. Amigo encara praia no inverno.
Amigo sabe dos teus podres e ainda assim faz tudo isso.

Todo mundo precisa de um Wilson.

13 de maio de 2009

need a little time to wake up

Ontem, dia 12/05/2009, por volta das 22h, eu morri.
Não sei bem como aconteceu. Lembro de estar dentro do carro em uma avenida. Tinha bastante gente, uns carros de polícia.
De repente me vi na frente de um portão. Resolvi entrar, dizem que a gente não pode lutar contra certas coisas. Lá dentro estava bem cheio, pessoas por todos os lados. Conforme entrava via mais pessoas, o calor aumentava. "Será que isso é o inferno? Yeah!! Sempre achei que o céu devia ser sem graça!"
Continuei andando. Me empurravam, me espremiam, senti cheiro de cerveja enquanto procurava um lugar mais tranquilo. Ali! Achei um!
Sentei um pouco, imaginando que aquilo devia ser a entrada de onde quer que fosse.
Alguns minutos depois, aconteceu.
A luz se apagou e eu vi. Eu, mais cética que meu cachorro, me vi na frente de Deus. Não um, mas dois Deuses! Imaginei que minhas boas ações estavam sendo recompensadas.
Eles me disseram "tonight I'm a rock'n'roll star". Eu não tive a menor dúvida. Pulei e gritei com eles, olhei em volta e todos faziam o mesmo. Pensei que aquele devia ser um lugar especial para todos os que tiveram um bom gosto musical em vida serem recebidos.
Um dos deuses, Liam é seu nome, tinha um jeito irresistível de parar e olhar para aquele monte de gente. Que pose! Que estilo! Enlouqueci.
Já o outro, Noel, ah... aquele sim me fez acreditar em paraíso. Aquela costeleta até o queixo, cabelo bagunçado, os olhos verdes! Tudo combinando perfeitamente com uma cara carrancuda de fazer parar meu coraçãozinho. (ops, ele já tinha parado!)
Cantaram, cantaram, pirei com cigarettes & alcohol e slide away, eles falam alto e cantam com orgulho. Mas foi quando Noel me disse "we're all part of a masterplan" que eu disse: obrigada meus deuses, minha vida valeu a pena! Não há Wonderwall que supere.
So I took my Champagne Supernova back to life saying: Yes, Liam, you are the walrus!

11 de maio de 2009

apenas uma noite

Vou? Não vou? Tá, vou. Escolher a roupa, parte mais difícil. Essa me engorda. Não, muito decotada. Ok, essa tá legal. Encontro o pessoal. Umas cervejas pra começar. O papo tá muito bom, vamos ficar mais um pouco. Agora já dá pra ir, bora. Putz, tem fila. A gente espera. Meia hora se passa. Entramos! Eca, cheirão de cigarro logo na entrada. Uma olhada, parece bom, bastante gente. Pista! Agora a noite começou. Amo essa música! Vou pegar uma bebida. Vodka ou cerveja? Muito cedo ainda, vou de cerveja. Volto pra pista. O pessoal de sempre, colegas, conhecidos... Essa cidade é mesmo um ovo! As gurias já estão começando a ficar doidas e eu não paro quieta. Droga, acabou a cerveja. Agora eu vou pra minha vodka, chega de frescura. Argh, desceu queimando. Sempre tem os malas que passam e querem beijo. Pro inferno! Lá vou eu de volta pra pista. O pessoal cada hora mais enlouquecido. Já estou bem soltinha. Me acabo com Franz Ferdinand. Uhhhhhh! Tá calor. Pausa para banheiro. Fofoca básica. Descubro que o fulano tá pegando uma gordinha. Acho melhor parar com a bebida. Só mais uma. Olha, aquele até é bonito. Pena que fuma. Sentadinha no bar pra descansar. Essa gente é parceira pra noite! Bora pra pista de novo? Meu pé está doendo, maldito salto! Mas não resisto ao The Strokes. 5h, pessoal morto e com fome. Ahh não, Habib's não! Mc nem pensar! Van Gogh?
Ceeerto! Uma canja e uma coca, por favor.

10 de maio de 2009

une autre année sans toi

E cá estou... o segundo dia das mães sem ti. Quem diria, hein?? Pra quem achou que não ia sobreviver ao primeiro!
Te digo uma coisa, agora que o pior passou, fiz isso por ti. Resolvi seguir tuas palavras. (sei que devia ter feito mais isso)
Queria que tu visse como as coisas estão agora. O Rico está tão bem!!! Tá na escola, tem amigos, sai sozinho... ontem até o levei pra festa!
Eu estou no caminho certo, acho. Graças à ti achei a carreira certa, ganhei um pai e nunca me dei tão bem com o Rico. E conheci uma pessoa que gostaria de ter te apresentado. O primeiro desde aquela bronca quando me separei do Mr. L, lembra??? "Nunca mais me apresenta ninguém, snif snif! Eu me apego e depois fico sofrendo!!! snif snif" Pois é, esse valeria a pena. Mas, putz, tu estarias chorando agora! Bom, não se pode ter tudo. Tu não o conheceste mas ele sabia tanto de ti que parecia ter convivido contigo por uma década! Tadinho, um ano e meio ouvindo "As Aventuras de Dona Lena". E o pior é que ele gostava! E me deu força quando eu disse que nossa filha se chamaria Lena.
Fiz numas besteiras também. Desculpa, mãe. Mas acho que o saldo é positivo.
Ainda não aprendi a dormir sozinha, preciso de uns drinks pra relaxar e pegar no sono, mas no drugs! Não te preocupa.
No dia das mãe do ano passado fui com o Rico pra Nova Petrópolis, lembra que tu querias morar lá? Foi bem bacana, até vimos umas casinhas que tu ias adorar. Passeando por lá me lembrei daquela nossa viagem à serra, só nós duas. Lembra o que foi?? Compras em N.P., um ônibus pinga-pinga até Canela, jantinha com vinho na frente do hotel, conchinha na hora de dormir, pic-nic pela rua, mais compras em Canela... Te senti tão minha!! Adorava ter minha mãezinha só pra mim.
Esse ano o Rico arrumou coisa melhor pra fazer e eu fiquei sozinha. Mas aproveitei o dia pra ver nossas fotos. Não quis te visitar. Desculpa se não tenho ido muito ultimamente, mas estou achando meios de me sentir perto de ti fora de lá. Machuca muito, tu entende, né?
Era tudo tão diferente antes! Mais fácil, menos assustador. Quem sabe a diferença esteja só em mim. Sem ti eu vi que estou sozinha, que todos estamos. Agora não tem mais o ninho pra onde voltar depois das andanças pelo mundo. Não tem mais quem passe a mão na minha cabeça quando eu faço besteira e ninguém entende quando tenho pic-nic sozinha. C'est la vie. Depois de tudo o que tive ao teu lado, não posso reclamar.
Queria te mandar isso em uma carta, com uma letra bonita em um papel amarelo, mas não sei pra onde mandar. Então fica aqui, quem sabe não tenha um acesso por aí?

Te amo tanto que dói!
Narizinho....

S.

8 de maio de 2009

your smell

Essa noite eu sonhei contigo. Até consegui sentir teu cheiro.
Durante todo esse tempo tu aparece praticamente todas as noites nos filmes bizarros da minha mente, mas dessa vez foi diferente. Era tu. Só tu.
Não tinha risada, choro, bronca nem rotina. Era o teu silêncio e teu cheiro.
Aquele perfume que só tu tinha e que está gravado na minha memória desde que nasci. Ainda sinto em uma ou outra roupa guardada. Não é a mesma coisa mas é um pouquinho de ti.
Já o teu silêncio não consigo mais encontrar. Não é a simples ausência de palavras, o vazio. É mais que isso. Palavras silenciosas voavam pelo ar e nos preenchiam sem precisarmos mexer um músculo do corpo.
Eu tento isso. Tento dar significado ao meu silêncio mas ele só era completo com o teu.
Meu mundo só era completo com o teu.

Sanchinho,
S.

5 de maio de 2009

medo do escuro

De repente o clarão se apaga.
Sobrou uma luz suave, bruxuleante, que só se mantém acesa porque o vento ainda não está muito forte.
E ela, sentada num canto do quarto, apenas observa. Morre de medo do escuro e da solidão, e sabe que quando aquela pequena vela se apagar, ela estará sozinha numa imensidão negra até o fim.
Como proteger aquela chaminha do vento que cisma em soprar? Se ela apenas pudesse segurá-la e mantê-la acesa entre suas mãos! Mas não pode, a chama é frágil e indomável demais.
Ela se sente pequena, vazia, sem forças, como se sua vida dependesse daquela pequena luz. Justo ela, que era tão forte que nada a assustava! Se deu conta de como a luz forte impede que as pessoas realmente se enxerguem. É como se as cegasse e somente na penumbra vissem o que realmente há (ou não há) dentro de cada um. Tudo o que ela vê agora é um enorme labirinto, as paredes (dúvidas, medos e alguns desejos que a apavoram) estão mais altas e intransponíveis que nunca. Não imagina o que há no fim, mas corre pra ele, procurando uma resposta, algo que a faça se sentir melhor, que faça parar de doer.
Os fantasmas que encontra em algumas esquinas já são velhos conhecidos, sempre presentes em suas longas noites insones. Lembra de quando se perdeu de seus pais na praia, ainda criança. E de quando sofreu sua maior desilusão amorosa. Aquele desespero de nunca mais se sentir completa de novo, abandono... que bobagem! Se pudesse voltar àquele tempo, quando era uma criancinha, o calor, a proteção...
Pensa em como enxergar na escuridão. Como se mexer? Como dar mais um passo?
Está começando a sentir frio. Procura chegar o mais perto possível da chama para conseguir um pouco de seu calor. Mas não é suficiente. E o vento começa a ficar forte.
Pensa que talvez pudesse manter a luzinha por mais tempo. Quem sabe uma redoma, ou trancar todas as janelas e portas para o vento não entrar. Mas não existe abrigo. O vento está virando um vendaval. Está ficando escuro...

4 de maio de 2009

her morning elegance

And she fights for her life
As she puts on her coat
And she fights for her life on the train
She looks at the rain
As it pours
And she fights for her life
As she goes in a store
With a thought she has caught
By a thread
She pays for the bread
And she goes...
Nobody knows