22 de junho de 2009

despedida

Entre mi amor y yo han de levantarse
trescientas noches como trescientas paredes
y el mar será una magia entre nosotros.

No havrá sino recuerdos.
Oh tardes merecidas por la pena,
noches esperanzadas de mirarte,
campos de mi camino, firmamento
que estou vivendo y perdiendo...
Definitiva como un mármol
entristecerá tu ausencia otras tardes.

jorge luis borges

19 de junho de 2009

achados e perdidos

Ando pela vida perdendo coisas. Por onde passo deixo algo. Pode ser por distração - vivo com a cabeça nas nuvens. Ou quem sabe eu silmplesmente não suporte carregar pesos. Perco anéis. Perco carteiras. Às vezes perco o juízo. Pessoas e amores, idéias e valores. Uns eu recupero. Outros nunca mais vejo.
Perco a hora. Perco as chaves. Perco o sono. Já perdi até uma gata. Perco a linha e perco o fio da meada.
Posso perder de tudo, mas nunca fico vazia. Não preciso de nada além do que está aqui dentro.

as abobrinhas!

"E se ela morrer, este espetáculo mundano pode bem encerrar as portas. Podem desmontá-lo, retirar as escadarias, enrolar o céu e coloca-lo num atrelado com um reboque... E podem apagar tudo. Podem apagar a lindíssima luz do Sol que eu tanto amo. E sabes por que amo tanto? Porque a amo quando o Sol recai sobre ela. Eles podem levar tudo, estes carpetes, estas colunas, estes palácios, a areia, o vento, as rãs, as melancias maduras, a saraiva, as seis da tarde, Maio, Junho, Julho, o basílico, as abelhas, o mar, as abobrinhas... as abobrinhas, Al Giumeili! Arranja-me lá a glicerina!"

Roberto Benigni é um abobado mas sabe das coisas.

As abobrinhas nunca mais serão as mesmas...

18 de junho de 2009

livros, poesia e amor eterno

Desde que me conheço por gente eu vivo aquela famosa crise do "eu não sei o que quero fazer na vida". Isso já me rendeu noites em claro, cobrança da família e dois cursos universitários interrompidos. Tá certo que nunca entendi bem por que alguém TEM que saber o que quer e não pode tentar até descobrir. Foi o que eu fiz, mas olhar pro lado e ver aquela amiga que se saiu do colégio comigo se tornar uma advogada mega realizada ou aquele amigo que vive pra salvar animaizinhos dá uma sensação de "putz, será que um dia eu vou me sentir assim também?".
Eis que, com um empurrãozinho de mamãe, me vejo na faculdade de jornalismo, absorvendo como uma esponjinha tudo o que vejo e leio, maravilhada por finalmente ter achado algo que me dá tanto prazer em fazer.
No meio disso tudo, trabalho com algo que sempre gostei mas nunca achei que daria certo: livros, na minha terceira livraria, dessa vez como estágiária. Dia desses disse para uma amiga que me perguntou como estava o trabalho: "Bah, não existe coisa no mundo mais gostosa do que viver no meio daquele monte de livros". Ela riu e disse um "Só tu mesmo...". Infelizmente, mesmo entre pessoas consideradas "esclarecidas", isso ainda é uma coisa sem objetivo, sem valor. Quer valor maior que ouvir Balzac te murmurando suas críticas jornalísticas, Simone de Beauvoir falando pelas mulheres independentes ou os paraísos artíficiais que Baudelaire visita em suas poesias? (sim, sou mais os franceses)
É no meio disso tudo que convivo com pessoas incríveis e presencio momentos impagáveis. Como no dia em que conheci uma senhorinha de 82 anos, que foi lá levar seu livro de poesias para vendermos. Pensei "que bonitinha, ela resolveu aproveitar até o fim de sua vida, produzindo uns poemas pra passar o tempo". De repente ela começou a declamar uma poesia sobre um sonho que tivera quando criança. Ok, não era um Rimbaud, mas que transformação ela sofreu! De uma velhinha excêntrica passou para uma menina de 12 anos, segurando uma rosa verde entre os dedos. Quando ela terminou me vi arrepiada e com lágrimas nos olhos. Não é todo dia que conhecemos pessoas assim.

Alguns dias depois, no dia dos namorados, estávamos, Fran (solteirona convicta), Mari (que queria terminar com o namorado) e eu (que aproveitava os últimos dias com o meu), conversando quando chega um casal (também na casa dos oitenta anos). Nenhuma de nós estava muito contente com nossas situações, imagina quando ouvimos do senhor com uma voz apaixonada "Essa aqui é a minha ursinha", e ela responde "Sabem o que ele me fez hoje? Me deu uma rosa quando acordei e depois me levou pra um almoço romântico!". Quando eles foram embora nos perguntamos se esse amor pra vida toda existe mesmo. Fran, com seu ceticismo, disse que isso era bobagem, no mínimo o homem era rico e a velhinha estava dando o golpe. Eu e Mari, bobocas, achamos que era um caso raro de pessoas que encontraram a maneira certa de fazer um relacionamento dar certo. Nisso chega o chefe, que conhece o casal: "Ahh, ela é uma figura! Já está no terceiro marido. Daqui a pouco esse morre e ela arruma outro."
Breve momento cara de tacho... Acho que prefiro seguir acreditando.

15 de junho de 2009

testamento

...
E para ele deixo todo o resto. Meu corpo, que foi só dele por tanto tempo. Minha alma, que nunca o deixará.
Ficam também as lembranças... quantas lembranças! As noites em claro, os passeios na praia, os 738 tipos de beijos e carinhos. Fica a minha cara de felicidade a cada surpresinha que ele me aprontava, quase todos os dias. Os planos, os desejos. Aquele calorzinho que eu sentia quando pensava nele. Tudo o que eu aprendi com ele, tudo que eu o ensinei. A satisfação de ter sido o melhor em tudo. TUDO.
A gratidão por ter me segurado quando eu podia ter ido embora. Também por ter ficado quando deveria ter ido embora. E por ter cuidado de mim como nunca ninguém cuidou.
Fica um amor que foi maior que eu, maior que ele, maior que a vida. Que quem sabe nunca se acabe totalmente.
Fica, acima de tudo, um espaço que ninguém jamais poderá tirar. Que é só dele. E a certeza de que o que ficou aqui dentro eu vou sempre manter vivo.

14 de junho de 2009

the end

Abriu os olhos ainda sem conseguir enxergar direito. Olhou para o lado: vazio; apenas uma camiseta vermelha em cima do travesseiro. Sentiu uma dor atravessar seu corpo. Tenta lembrar da noite anterior, uma avenida vazia, alguns gritos, os olhos ardendo, aquele rosto hostil. "O que foi que eu fiz?".
Ao sentar na cama a certeza lhe caiu como um tijolo: estava acabado. Pensa no que fazer, tem algumas opções. Nenhuma lhe parece útil. Liga o computador e começa a escrever um email. Droga de tecnologia, os tempos de bater na porta de casa e despejar as palavras que vêm à cabeça eram melhores. Uma frase não tinha nexo com a outra, melhor apagar tudo.
Quem sabe uma volta pela rua... não está tão frio e tem um sol bonito. Caminha um pouco mas logo desiste; tem mais pessoas felizes na rua do que o normal, e isso a irrita hoje mais do que o normal.
Quem sabe ler? Não, Beauvoir não está ajudando. Histórias de guerra menos ainda... desiste de procurar distração. Pensa naqueles que conseguem tirar coisas boas da dor. Ela não consegue, apenas mais dor.
Queria ouvir aquela voz mais uma vez. Ver aquele rosto mais uma vez. Sentir aquele corpo mais uma vez. Sempre se recusou a aceitar a "última vez". Odeia tudo que é definitivo. Talvez por isso nunca aprendeu a lidar com a morte e com epílogos. Precisa de uma porta aberta.
Cheira a camiseta. Precisa dela, daquele conforto. Algo que a prove que não estava louca. Ele existia e esteve ali há poucas horas.
Se foi, mas alguma porta tinha que estar aberta.

take me, i'm yours

Nunca foi minha intenção deixar esse blog meloso, usá-lo pra dizer algo para A ou B. Hoje, lendo o que já escrevi, notei que foi exatamente isso que aconteceu. Paciência.

Os últimos acontecimentos foram decisivos no rumo das coisas. Não sei se é realmente o fim, cada célula do meu corpo quer que não seja, mas tem coisas que minhas células não podem resolver.
734 emails não terminados, palavras agoniadas querendo pular da garganta, "ne me quitte pas" e outros desesperos tocados sem parar, muito vinho... Nada ajuda. Pelo contrário.
Como fazê-lo ver que apesar dos problemas eu o quero mais que tudo? Posso não saber dar o que ele quer, aqueles dois parafusos perdidos fazem falta às vezes, mas algo que encaixa tão bem tem que dar certo!
Eu me rendo, o deixo me transformar no que ele quiser. Não sou mais minha.

4 de junho de 2009

fuck rehab!

Em grande estilo!!